Grande parte dos brasileiros neste segundo turno foram votar. Gesto importante em uma sociedade democrática. Claro, considerando que essa democracia precisa de aperfeiçoamento. Como por exemplo a necessidade de uma profunda reforma política, esse desigual instituto da reeleição cria obstáculos para a alternância nos cargos executivos no País. Sem falar que a maioria dos prefeitos reeleitos foram abastecidos pelo orçamento secreto orquestradas pelo congresso nacional.
Sem falar que vivemos uma época de intenso pessimismo político, moral e cultural, é também essa a lógica da religião da matéria oferecida como consolação às massas pelos cultos da prosperidade. Aposta-se que um investimento monetário em Deus retornará multiplicado. Daí o sucesso a qualquer custo.
A defesa de idéias, propostas, programas são deixados de lado, mas, como no futebol, ganha quem faz mais gols. Vamos deixando o romantismo de lado e cada vez, percebendo que o mecanismo do voto, por mais de 85% dos eleitores, majoritariamente de analfabetos funcionais, e dos segmentos das classes “C”, “D” e “E”, movidos pela lógica de ex-escravos - a lógica do favor - talvez entendamos que é a realidade concreta que define o jogo eleitoral. Esta eleições municipais deixam um indicativo da forte pressão da máquina eleitoral de forças políticas tradicionais pelo País.
A política não pode ser a arte de prosperar, ficar rico e ser feliz, apropriando-se do Estado, que cada vez serve menos a maioria. Estes prefeitos eleitos vão enfrentar desafios complexos, como a melhoria da aprendizagem, adaptação da cidades às mudanças climática e a segurança pública que praticamente é controlada dentro e fora dos presídios por facções criminosas.
A democracia é o maior valor, nas últimas décadas temos vistos repetições de gestões administrativas, com descontinuidade nas obras, desprezo ao meio ambiente e desconstrução de cidades. Sempre o mais do mesmo, com a maioria da população sem respostas em seu bem estar. Princípios morais regem ações do poder público, separar a moralidade da política, aponta para o contrassenso que termina gerando tirania.
A democracia não pode morrer. Os democratas precisam tirar lições desse processo eleitoral, devemos não esquecer o que aconteceu em 8 de janeiro, para não resvalar para o exemplo de violações, da forma que presenciamos na Venezuela, que viveu uma eleição ilegítima que acumulou uma série de crimes contra a humanidade naquele País.
Não vamos esquecer que mais da metade da população mundial vive nas cidades e grande parte está submetida à tragédia da desigualdade, da exclusão, dos desastres climáticos, da violência e do desemprego. Muda os candidatos, os partidos no poder, o que não muda como diz o Flávio Leandro, na sua canção, nesse mundo é somente a mudança.
Regis Cavalcante é jornalista e professor da Ufal.
Comments