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Foto do escritorLuiz Carlos Azedo

Depois de Gaza, Israel bombardeia Beirute



Netanyahu acredita que o Hezbollah está sem capacidade de reação, desde a explosão dos pagers e walkie-talkies de militantes da organização por Israel

O Ministério da Saúde do Líbano disse que 492 pessoas morreram e 1.645 ficaram feridas nesta segunda-feira (23), depois de Israel lançar um ataque aéreo amplo no país. Pouco antes, as Forças de Defesa de Israel haviam alertado a população civil para que se afastasse “imediatamente” de supostas posições e depósitos de armas do grupo extremista Hezbollah. A narrativa do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu é de que os ataques miram os comandantes e militantes do grupos e bases de misseis em residências civis, muito semelhante à adotada em Gaza, onde os bombardeios não levaram em conta seus efeitos colaterais e mataram milhares de idosos, mulheres e crianças.

Pela manhã, Israel atacou regiões do Sul e do Leste do Líbano. Mais tarde, voltou a bombardear Beirute, a capital, que já havia sido alvo de um grande ataque na sexta-feira (20). Cerca de 1.300 alvos do grupo foram atacados, segundo os militares israelenses, a maioria em residências e prédios residenciais. De acordo com as Forças de Defesa de Israel (FDI), “grande número” de integrantes do Hezbollah foram mortos no Líbano nesta segunda. Um dos comandantes do alto escalão do Hezbollah, Ali Karaki, era o alvo do bombardeio israelense em Beirute. Segundo o Hezbollah, o dirigente está vivo, em local seguro.

A operação israelense segue o padrão das ações adotadas contra o Hamas em Gaza, que era completamente destruída antes de iniciar operações por terra. O Exército israelense promoveu intensos bombardeios sobre o que seria “a infraestrutura de combate que o Hezbollah vem construindo nos últimos 20 anos“. Há pânico e fuga em massa do Líbano. Segundo o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, dezenas de milhares de foguetes do Hezbollah foram destruídos no sul do Líbano e no Vale do Bekaa, no Leste.

Jatos israelenses bombardearam intensamente o Vale do Bekaa, no Nordeste do Líbano, considerado um reduto do Hezbollah. Os militares deram um prazo de duas horas para que os moradores deixassem suas casas. “Prometi que mudaríamos o equilíbrio de segurança, o equilíbrio de poder ao norte [de Israel] — é exatamente isso que estamos fazendo”, disse Netanyahu, deixando no ar a iminência de uma nova invasão.

O primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, chamou os ataques de um “plano destrutivo que visa arrasar vilas e cidades libanesas”. Mikati disse que as ações de Israel marcam “uma guerra de extermínio em todos os sentidos da palavra”. Desde a semana passada, mais de 100 mil libaneses tiveram que deixar suas casas por causa dos ataques israelenses, sem expectativa imediata de poderem retornar.

Muitas famílias brasileiras moram no Líbano, somam 12 mil cidadãos. O Itamaraty já trabalha para evacuá-las, dado o contexto de ataques aéreos de Israel ao país. O Brasil tem experiência de retirada de brasileiros do Líbano, na última invasão foram 3 mil, mas agora a situação é mais difícil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é considerado “persona non grata” pelo governo de Israel, deve fazer duras críticas a Netanyahu no seu na abertura da Assembleia Geral da ONU, hoje.

Sem acordo

A tensão também atinge a comunidade libanesa no Brasil, que soma 12 milhões de pessoas, maior do que a população do Líbano, 4,5 milhões no Líbano. O êxodo de libanês deve aumentar e um dos países de referência para os refugiados é o Brasil, porque têm familiares aqui. Essa situação colabora para aumentar o antissemitismo no Brasil, uma vez que grande parte da comunidade judaica apoia os ataques de Israel, incondicionalmente, porque o Hezbollah é aliado do Hamas e ataca Israel sistematicamente.

A tensão com o Irã, financiador do Hezbollah e do Hamas, aumentou. O presidente Masoud Pezeshkian acusou Israel de tentar criar um conflito mais amplo e que disse que até agora o Irã considerou os apelos do Ocidente para que não retaliasse Israel, para não prejudicar os esforços de paz em Gaza. Desde a revolução islâmica de 1979, o Irã é o maior e mais poderoso inimigo de Israel, com uma narrativa que prega sua destruição e legitima a escalada patrocinada por Netanyahu.

Os ataques aéreos de Israel ao Hezbollah miram as bases de mísseis de longo alcance. Segundo Israel, estariam em casas particulares. Circula nas redes um vídeo com efeitos gráficos que simula como seriam as bases de mísseis destruídas pelos bombardeios em áreas residenciais. Estrategistas avaliam que Israel se preparou para uma grande ação contra o Hezbollah, para garantir a volta de 50 mil israelenses que estão fora de casa no Sul de Israel.

Netanyahu acredita que o Hezbollah está sem capacidade de reação, desde a explosão dos pagers e walkie-talkies de militantes da organização pelos serviços de inteligência de Israel e que agora seria a oportunidade de mudar o quadro estratégico nas colinas e cidades de ambos os lados da fronteira entre Israel e Líbano. O conflito Israel-Hezbollah existe há décadas, mas se intensificou após o ataque do Hamas em 7 de outubro do ano passado, com disparos sistemáticos de foguetes contra Israel. Entretanto, não houve uma escalada, como agora.

A única maneira de resolver o conflito é um acordo de paz em Gaza, uma exigência do Hezbollah que Israel não aceita. Entretanto, a proposta de paz dos Estados Unidos não é aceita por nenhum dos lados. O Hezbollah, como o Hamas, também é um partido político. Tem até cadeiras no parlamento do Líbano, cuja estabilidade política depende da paz.
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